quinta-feira, 26 de maio de 2011

Alerj Realiza Nova Audiência Publica para Discutir sobre o Aterro Sanitário

Acontece amanhã (27) uma nova Audiência na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) com a finalidade de discutir a situação do Aterro Sanitário em Seropédica. O Centro de Tratamento de Resíduos Santa Rosa (CTR) já está em funcionamento desde o final de abril e tem causado polêmica por acarretar sérios problemas ambientais, entre outros.

A Associação de Docentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (ADUR-RJ), que juntamente com outros setores da Universidade tem denunciado a gravidade do empreendimento, convida a comunidade a participar do evento. Para isso, disponibiliza dois ônibus que sairão de Seropédica para o Centro do Rio de Janeiro, às 7h. Um dos coletivos partirá da Praça da cidade (Km 49) e o outro sairá do ponto de ônibus da Universidade (localizado ao lado do hotel).

Irregularidades

De acordo com um relatório assinado por Márcia Marques e disponibilizado no site da ADUR-RJ, durante visita feita no aterro no dia seis de maio deste ano, a equipe multidisciplinar -composta pelo Fórum de Mobilização contra o lixo em Seropédica, pela Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Vereadores de Seropédica, pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Seropédica e pela Câmara Técnica do Aquífero Piranema - constatou diversas irregularidades, dentre as quais:

• Uma lagoa de chorume construída provisoriamente a céu aberto, devido à falta de uma estação de tratamento de chorume, como previa o projeto;
• Deposição do lixo sem a devida cobertura de camadas de barro (saibro);
• Obra inacabada de primeira fase do aterro, sem o fechamento adequado da célula, onde as mantas de proteção se encontram expostas e solapadas;
• O sistema de monitoramento eletrônico, dito pela empresa responsável importado dos Estados Unidos, não estava funcionando – caracterizando total descaso com o monitoramento do vazamento de chorume;
• E por fim, abastecimento irregular de carros pipas em lagoa perene, localizada no empreendimento para a umidificação do solo;

terça-feira, 17 de maio de 2011

Artigo
Aterro sanitário?

Por Hélio Fernandes Machado Júnior, diretor do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e membro do Comitê Guandu



Após longo tempo acompanhando as discussões sobre a implantação de um aterro sanitário no município de Seropédica; vendo e ouvindo os especialistas sobre os imensos malefícios para região, oriundos do passivo ambiental que restará após o despejo das quase 50 milhões de toneladas de lixo, nos próximos 15 anos de atividade, sobre uma das poucas áreas de reserva natural de águas (o Aquífero Piranema); e ter contribuído com estudos técnicos sobre o aproveitamento de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), na tentativa de evitar um dos maiores crimes de caráter político, econômico e ambiental contra o estado do Rio, Seropédica e a centenária UFRRJ, peço a todos que façam as seguintes reflexões: 
1. Como evitar um empreendimento desse porte se aqueles que elegemos como nossos governantes assinam leis, decretos e projetos para protegê-los e destroem, gradativamente, o seu próprio estado?;
2. Como ensinar a pessoas adultas que não se deve jogar lixo no chão, colocar na porta do vizinho ou esconder debaixo do tapete?
Prezados, infelizmente nos dois casos as minhas reflexões me levam sempre a uma única resposta: “Só nascendo de novo, talvez”. Como engenheiro químico e professor do magistério superior há 20 anos – e nascido na zona oeste do Rio – fui educado pelos meus pais a ser honesto e ter princípios, respeitando a mim mesmo e ao próximo. Fui ensinado pelas escolas que frequentei que educação e saúde são a base de toda sociedade que quer ser rica e próspera.
Hoje, depois de longos debates a respeito do tema “aterro sanitário” e observando as soluções apresentadas – incluindo a Lei 12.305 (de 2/8/2010), que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – conclui-se que os processos que utilizam a redução de volumes de resíduos, tanto para gerar energia quanto briquetes para produção energia, possibilitam a eliminação dos aterros. Mas, infelizmente, a política econômica da urgência fecha os olhos para soluções mais viáveis, com geração de emprego e renda para todos, de forma lícita e racional.
Diante de tantos fatos, e lembrando que a escassez de água doce tem aumentado com a degradação de rios e nascentes, estaremos agora no início do século 21 aterrando um imenso aquífero subterrâneo, do qual futuramente iremos precisar. Vale lembrar: a água que abastece o município do Rio de Janeiro é oriunda, em sua maior parcela, da Estação de Tratamento de Águas do Guandu, cuja fonte de captação é o rio Guandu. O rio passa por Seropédica e, certamente, com a instalação da CTR Santa Rosa, será ainda mais contaminado, onerando os custos do tratamento e o valor do metro cúbico da água tratada para o consumidor carioca – que estará feliz com a Copa de 2014 e com as Olimpíadas de 2016, pagando o alto custo pela sua total ignorância e falta de educação. 
Fonte: Ascom/ UFRRJ
Como se mata um aquífero e uma região
Por José Cláudio Souza Alves, Pró-reitor de Extensão da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
O Comitê Guandu, através da sua câmara técnica, que analisa o impacto da Central de Tratamento de Resíduos (CTR) Santa Rosa sobre os recursos hídricos da região, realizou uma visita ao referido aterro sanitário para avaliar sua implantação.
Representantes deste Comitê, da Prefeitura de Seropédica, da Câmara de Vereadores, da UFRRJ, do DCE e da sociedade civil compuseram a comitiva que chegou ao local por volta das 11h do dia 6/5. Ao chegarmos, percebemos que as instalações, os caminhões que transportavam o lixo, vários carros e uniformes eram da Prefeitura do Rio de Janeiro, com sua logomarca, ou da Comlurb, não permitindo identificar o que pertencia realmente à empresa Ciclus. Durante a visita técnica, constatou-se o pior: o início das atividades da CTR se deu de forma irregular, sem que as exigências para sua implantação tivessem sido cumpridas.
Os sensores eletrônicos necessários para identificar vazamentos de chorume sobre o aquífero não estão funcionando. Logo, se embaixo da atual montanha de lixo existir algum vazamento, não há como detectar. Além disso, o sistema não é online, isto é, ele serve para que a empresa elabore relatórios, a serem enviados, mensalmente, para o Inea (Instituto Estadual do Ambiente). Nesse caso, mesmo que no futuro ocorra algum vazamento, há o risco da informação ser enviada muito tardiamente ou mesmo ser manipulada, mascarando a possível contaminação do aquífero.
Foi identificada a coleta ilegal de água do próprio aquífero, a partir de poços ou da sucção direta de uma lagoa, identificada pelo relatório da empresa como sendo temporária, mas que na verdade é perene. Esta água está sendo utilizada para molhar o lixo e as vias de acesso ao lixo, a fim de reduzir o cheiro e a poeira.
O centro de tratamento de chorume não foi construído ainda. O que existe é uma imensa lagoa de chorume, a céu aberto, emitindo odores e elementos infecto-contagiosos, cujo resíduo líquido é recolhido por um caminhão de sucção e levado para a CTR Nova Iguaçu, da mesma empresa que, conforme denúncia anterior, vem contaminando o lençol freático daquela região.
Vários animais foram encontrados dentro do empreendimento: gado, cães, quero-queros, peixes, anfíbios, revelando a contaminação direta deles. Por outro lado, apenas uma cerca de arame faz o isolamento da área, permitindo a penetração de ratos, gambás, outros roedores e pequenos animais, que se transformarão em agentes portadores de dezenas de doenças – entre elas a leptospirose – que, em momento de inundações, acarretarão epidemias.
A montanha, com aproximadamente 20 mil toneladas de lixo, já se encontra instalada, bem próxima à encosta da serra, na área de recarga do aquífero. O sistema de drenagem, nesta área, sujeita a inundação, simplesmente não foi construído pela em presa. Ela se vale do sistema do arco metropolitano, externo ao empreendimento, revelando o risco de contaminação pelo transbordamento do chorume.
O que foi até aqui descrito revela o descaso e a conivência dos setores público e privado com o crime ambiental de destruição do aquífero Piranema, contaminação de solo e proliferação de doenças. Cabe agora ao Comitê Guandu, através do relatório de sua câmara técnica, encaminhar denúncia ao Inea; cabe aos vereadores e ao secretário de Meio Ambiente e Agricultura de Seropédica fazer o mes mo. A nós, UFRRJ, cabe denunciar o fato publicamente e manter nossa atuação através do Fórum de Mo bilização Contra o Aterro Sanitário em Seropédica.

Precisamos criar uma comissão técnica permanente, pela instituição, que faça medições regulares dos índices de contaminação de solo, água, ar e de disseminação de doenças na região, para alimentar constantes relatórios que inviabilizem a continuidade deste empreendimento. Caso contrário, veremos a realização das mais nefastas previsões quanto à degradação da vida da cidade e da universidade, conforme indicam os inúmeros relatórios por nós elaborados.
Fonte: Ascom / UFRRJ